A Criança de 6 anos no Ensino Fundamental


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Apropriação da leitura e escrita aos 6 anos

Principalmente após a Segunda Grande Guerra, tornou-se uma tendência universal estender a obrigatoriedade do período de escolarização do Ensino Fundamental para nove anos. Hoje é uma realidade na maior parte dos países. Igualmente, a matrícula obrigatória da criança com 6 anos completos no Ensino Fundamental é bastante comum na educação mundial. Sabemos que o aumento da escolaridade das crianças é uma necessidade da organização contemporânea da vida urbana. Neste sentido, o Brasil chega tardiamente a esta obrigatoriedade.

A maior parte dos argumentos a favor e contra esta inclusão discute a questão a partir da perspectiva das aprendizagens escolares e do desenvolvimento da criança centralizados mais na capacidade cognitiva. É necessário, porém, ampliar a discussão: no século XX a infância foi muito discutida a partir da psicologia e da psicanálise. Porém, ela é também objeto de estudo de outras áreas de conhecimento, como a antropologia, a história, as neurociências e as artes.

A infância é um período de desenvolvimento cultural do ser humano, cuja importância vai ficando cada vez mais clara e precisa à medida que avançam os conhecimentos sobre o desenvolvimento do cérebro. As descobertas nesta área já são tão importantes que chegam a afetar a natureza de currículos da Educação Infantil em alguns países. É o caso, por exemplo, da França, que introduziu um currículo para a infância apoiado em pilares diferenciados dos que nortearam a educação da infância durante a maior parte do século XX.

Neste novo currículo, as práticas culturais da infância ganham relevo e o tempo é distribuído de forma que atividades que envolvam música e movimento sejam equiparadas em importância às atividades mais especificamente voltadas à apropriação da leitura e da escrita. Busca-se, assim, uma escolarização que vise à formação da criança enquanto ser de cultura em desenvolvimento.


Quem é esta criança?

A criança que completou 6 anos está no seu sétimo ano de vida. Este período é fundamental no seu desenvolvimento cultural e é marcado por mudanças biológicas importantes. A criança apropria-se, nesta época, das formas humanas de comunicação, desenvolve o vocabulário, experimenta o espaço de várias maneiras, desenvolve o pensamento espacial.

A criança de 6 anos está em processo de desenvolvimento da função simbólica. Neste período, as atividades que envolvam símbolos e significados são muito importantes, como desenhar, brincar de faz de conta, praticar jogos infantis que envolvam personagens e ações imitativas, cantar, dançar, ouvir histórias, poesias e narrativas da cultura local. É muito importante a vivência das práticas culturais de sua comunidade e região, pois a elas estão ligadas a percepção de si mesma como membro de um grupo e à formação da identidade.

No domínio do desenvolvimento cerebral, temos modificações significativas nas estruturas do cérebro ligadas à atenção. Paulatinamente, a criança neste período vai se tornando mais apta a seguir
instruções para a realização de tarefas complexas, como as exigidas no processo de escolarização e a prever consequências de suas decisões e das ações que realiza. Porém, estas são coisas que acontecem ao longo de um tempo e a criança de 6 anos não está totalmente aparelhada para realizar determinadas atividades que são exigidas pelo Ensino Fundamental só porque completou 6 anos de idade.

A memória infantil neste período está muito ligada à percepção. Portanto as ações pedagógicas precisam estar adequadas a esta condição do desenvolvimento infantil. As atividades próprias deste período devem ser utilizadas no planejamento pedagógico como suporte para a memória. Por exemplo, usar o desenho como registro do que a criança observa, do que vivencia. Recorrer ao movimento é igualmente importante.

Como este é um período importante do desenvolvimento da imaginação, cabe à escola oferecer situações que ampliem o acervo de imagens e narrativas presentes na memória infantil. Histórias, obras de arte, desenhos, músicas, dramatizações, instrumentos musicais, brincadeiras e festas populares, contato com a natureza, oferecem muitas possibilidades para este enriquecimento da imaginação.

Elvira Souza Lima

Bibliografia:
LIMA, Elvira Souza. Como a criança pequena se desenvolve. São Paulo: Editora Sobradinho 107, 2001.
LIMA, Elvira Souza. A criança pequena e suas linguagens. São Paulo: Editora Sobradinho 107, 2002.

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